Tahira (pseudónimo), a pura.
45 anos, dois ou três cabelos brancos, quatro ou cinco dentes. Os cabelos são pretos e os olhos verdes. É a senhora que faz a limpeza todos os fins de tarde nos escritórios da empresa.
Tahira: Não devias fumar.
Catarina: Eu sei, mas é uma fraqueza que tenho...
T: Mesmo assim. Isso faz-te muito mal.
C: (com ironia) É para evitar dar murros nos homens, que às vezes bem me apetece.
T: Ah, não. Mas devias ser forte.
C: Eu sei, mas é apenas...
T: (sem me deixar acabar) Nós argelinos é que temos problemas. Vocês, não! E ainda por cima estás rodeada de portugueses, que são sempre tão gentis e amáveis. Os homens daqui não são assim.
C: (silêncio encavacado, que já vai sendo habitual...)
T: Vê a minha filha, por exemplo. Casou-se aos 23 anos, teve uma filhinha linda, linda. Cada vez que ia visitá-las, eu ia encontrá-la com a cara toda inchada, porque o marido a enchia de pancada. Tive que lhe dizer que já chega, e trouxe-a comigo.
C: ([o que é que se diz a isto???]
T: Divorciaram-se, a minha filha tem uma criança de 2 anos para cuidar, o pai da criança nunca pede para vê-las nem ajuda com nada, e achas que ela fraquejou, ou que se deu a vícios? Não! Passa o dia em casa a chorar e a rezar, para ganhar coragem para continuar.
E depois continuei calada, a lembrar-me do provérbio árabe:
O espírito vê, o coração ouve.